segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Noite Chuvosa

OH NOITE fria e horrenda,
Qual abismo de treva sem igual,
Minha alma entrego em oferenda
A Tua profana paz eternal!

Miríades de frias lágrimas ecoam,
Sincrônicas lamúrias singulares
Lançadas por nuvens que os céus povoam
Pálidas, eclipsando os brilhos estelares.

Deixais uma húmile lágrima minha
A teus pingos taciturnos se juntar,
Pois derramo-a co'a mesma calma estranha
Com que teus pingos estão a reboar.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Fim de ano...

Essa época é, com certeza, a época que mais odeio no ano! Nem vou comentar sobre a hipocrisia que domina a todos... Mas o fato é que estão condensadas em menos de dez dias as três datas mais chatas de todo ano (natal, ano novo, e meu aniversário), haja saco!!!

O que posso fazer é me afundar em minhas leituras prediletas, que refletem perfeitamente o meu estado de alma. Selecionei dois trechos do que estou lendo para compartilhar um pouco do meu desassossego com meus queridos leitores. Aí está (ambos os trechos são do Pessoa e estão no Livro do Desassossego):

Na Floresta do Alheamento

Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque cansa, da vida, porque farta, e não sacia, e até da morte, porque traz mais do que se quer e menos do que se espera.

Desenganemo-nos do nosso próprio tédio, porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é.

Não choremos, não odiemos, não desejemos...

Cubramos com um lenço de linho fino o perfil hirto da nossa Imperfeição...


Nossa Senhora do Silêncio

Consoladora dos que não tem consolação, Lágrimas dos que nunca choram, Hora que nunca soa – livra-me da alegria e da felicidade.

Ópio de todos os silêncios, Lira para não se tanger, Vitral de lonjura e de abandono – faze com que eu seja odiado pelos homens e escarnecido pelas mulheres.

Címbalo de Extrema-Unção, Carícias sem gesto, Pompa morta à sombra, Óleo de horas dormidas – livra-me da religião, porque é suave; e da descrença porque é forte.

Lírio fanando à tarde, Cofre de rosas murchas, Silêncio entre prece e prece – enche-me de nojo de viver, de ódio de ser são, de desprezo por ser jovem.

*

Torna-me inútil e estéril, ó Acolhedora de todos os sonhos vagos; faze-me puro sem razão para o ser, e falso sem amor a sê-lo, ó Água Corrente das Tristezas Vividas, que minha boca seja uma paisagem de gelos, os meus olhos dois lagos mortos, os meus gestos um esfolhar lento de árvores velhas – ó Ladainha de Desassossegos, ó Missa-Roxa de Cansaços, ó Corola, ó Fluido, ó Ascensão!...

*

Tu és tudo o que a Vida não é; o que de bom e de belo os sonhos deixam e não existe.

*

Rezo a ti o meu amor porque o meu amor por ti é já uma oração; mais nem te concebo como amada, nem te ergo ante mim como santa.

Que os teus actos sejam a estátua da renúncia, os teus gestos o pedestal da indiferença, as tuas palavras os vitrais da negação.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Depois de algum tempo

“Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoa-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distancias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem da vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, perceber que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas que você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa – por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nos somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida”!

“Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar”.

WILLIAM SHAKESPEARE

Ilustração de Gustave Doré para a Divina Comédia


(Clique na imagem para ampliá-la)

Paul Gustave Doré (Estrasburgo, 6 de janeiro de 1832 — Paris, 23 de janeiro de 1883) foi um pintor, desenhista e o mais produtivo e bem-sucedido ilustrador francês de livros de meados do século XIX. Seu estilo se caracteriza pela inclinação para a fantasia, mas também produziu trabalhos mais sóbrios, como os notáveis estudos sobre as áreas pobres de Londres, realizados entre 1869 e 1871.

Filho de um engenheiro, começou a desenhar já aos treze anos suas primeiras litogravuras e aos catorze publicou seu primeiro álbum, intitulado "Les travaux d'Hercule" (Os Trabalhos de Hércules). Aos quinze anos engajou-se como caricaturista do "Journal pour rire", de Charles Philipon. Neste mesmo ano - 1848 - estreou no Salão com dois desenhos a pena.

Em 1849, com a morte do pai, já reconhecido apesar de contar apenas dezesseis anos. Passa a maior parte do tempo com a mãe. Em 1851 realiza algumas esculturas com temas religiosos e colabora em diversas revistas e com o "Journal pour tous".

Em 1854 o editor Joseph Bry publica uma edição das obras de Rabelais, contendo uma centena de gravuras feitas por Doré. Entre 1861 a 68 realiza a ilustração dA Divina Comédia, de Dante Alighieri

Após algum tempo desenhando diretamente sobre a madeira e tendo seus trabalhos gravados por amigos, iniciou-se na pintura e na escultura, mas suas obras em tela e esculturas não fizeram tanto sucesso como suas ilustrações em tons acinzentados e altamente detalhadas.

Com aproximadamente 25 anos, começou a trabalhar nas ilustrações de O Inferno de Dante. Em 1868, Doré terminou as ilustrações de O Purgatório e de O Paraíso, e publicou uma segunda parte incluindo todas as ilustrações de A Divina Comédia.

Sua paixão eram mesmo as obras literárias. Ilustrou mais de cento e vinte obras, como os Contos jocosos, de Honoré de Balzac (1855);Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes (1863);O Paraíso Perdido, de Milton; Gargântua e Pantagruel, de Rabelais; O Corvo, de Edgar Allan Poe; a Bíblia; A Balada do Velho Marinheiro, de Samuel Taylor Coleridge; contos de fadas de Charles Perrault, como Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas, A Bela Adormecida e Cinderela, entre outras obras–primas. Ilustrou também alguns trabalhos do poeta inglês Lorde Byron, como As Trevas e Manfredo.

Em 1869, Doré foi contratado para ilustrar o livro Londres: Uma Peregrinação, muito criticado por, supostamente, retratar apenas a pobreza da cidade. Mas apesar de todas as críticas, o livro foi um sucesso de vendagem na Inglaterra, valorizando ainda mais o seu trabalho na Europa. Ganhou muito dinheiro ilustrando para diversos livros e obras públicas, mas nunca abriu mão dos trabalho desenvolvidos apenas para seu prazer pessoal.

Gustave Doré morreu aos 51 anos, pobre, pois todo o dinheiro que havia ganho com o seu trabalho foi utilizado para quitar diversas dívidas, deixando incompletas suas ilustrações para uma edição não divulgada de Shakespeare, entre outros trabalhos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Vida, coisa muito (des)engraçada

A vida é coisa muito engraçada. Quando tudo vai bem, ou parece ir (porque se se vai, não está bem), sempre acontece alguma coisa que te faz lembrar como viver é uma merda! Mesmo que essa coisa que aconteça seja nada. Na verdade, nada é a pior coisa que pode acontecer a alguém, e a mim tenho a impressão que me acontece sempre...

Não sei bem se nada me acontece ou se minha alma não está preparada para que lha aconteça algo – o que no fundo é a mesma coisa – mas, de fato, o tédio de existir em mim é extremo.

Coisa engraçada, como dizia, é que tudo ia bem, muito bem por sinal – o ano que esta por vir trás em si boas promessas (e me espanta muito dizer isso!) – mas uma pequena coisa que me aconteceu, tão insignificante que não sei nem se é real, colocou tudo abaixo. Na verdade nem lembro bem o que seja...

Porém fez-me lembrar de uma coisa (que eu já estava esquecendo): como é desconfortável viver... um incômodo mesmo. Sinto continuamente como que se algo estivesse sempre por acontecer. E isso irrita-me profundamente, angustia-me profundamente. O que está por acontecer que aconteça, ora bolas... aconteça! ACONTEÇA!! A-CON-TE-ÇA!!!

...

É; mas nada nunca acontece, ou sempre acontece. Nada acontece sempre, mesmo que aconteça...

Entende o que eu digo? Mesmo quando alguma coisa acontece, ou quando tudo vai bem, fica aquela sensação estranha de que nada está acontecendo, ou de que nada vai bem. Talvez porque, no fundo, tudo seja nada, ou nada seja tudo. E, se o todo é nada, então suas partes também nada são. Se a vida no todo não é nada, as pequenas partes que a compõem – cada pequeno momento – nada mais são que pequenos nadas. Daí o vazio do existir, o sentimento constante de que algo está para acontecer – de que algo TEM que acontecer – porque nada realmente acontece, nada realmente é, tudo é vazio, sem sentido.

... isso está mais é parecendo aquele velho papo metafísico bem idiota e, ainda por cima, o que é pior, bem clichê. Mas não muda o fato de que, para mim pelo menos, essa sensação é muito real!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Estar...

13-09-2007
Ao passo de cada passo
Perpassa em mim o passado,
Como o futuro a porvir,
Faz-se em mim o presente.
Toma então um novo sentido o momento:
É um nada... um sem tempo...
O existir apenas.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Esclarecimentos

Deixai Fernado Pessoa falar por mim:

"Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Livro do Desassossego, Fragmento 1.