terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Alguns Poemas

"Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo; encher meus dias
De não querer mais deles.

Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida

Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas aos que nada 'spera
Tudo que lhe vem é grato."


"Não só quem nos odeia ou inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo, quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses."


"Domina ou cala. Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias? Goza
Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido."


"Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada."

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).