quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Elucubrações filosóficas sobre a máxima “o sapo não lava o pé”.

Recebi por e-mail esse pequeno tratado filosófico e decidi postá-lo no blog, dado sua enorme importância. Infelizmente o autor que coligiu tais pérolas de sabedoria dos maiores pensadores que a humanidade já viu me é desconhecido.


Porque o sapo não lava o pé?

Parmênides de Eléia:

Como poderia o sapo lavar os pés, ó deuses, se o movimento não existe?

Heráclito de Éfeso:

Quando o sapo lava o pé, nem ele nem o pé são mais os mesmos, pois
ambos se modificam na lavagem, devido à impermanência das coisas.

Platão:

Górgias: Por Zeus, Sócrates, os sapos não lavam os seus pés porque não
gostam da água!

Sócrates: Pensemos um pouco, ó Górgias. Tu assumiste, quando há pouco
dialogava com Filebo, que o sapo é um ser vivo, correto?

Górgias: Sou forçado a admitir que sim.

Sócrates: Pois bem, e se o sapo é um ser vivo, deve forçosamente fazer
parte de uma categoria determinada de seres vivos, posto que estes
dividem-se em categorias segundo seu modo de vida e sua forma
corporal; os cavalos são diferentes das hidras e estas dos falcões, e
assim por diante, correto?

Górgias: Sim, tu estás novamente correto.

Sócrates: A característica dos sapos é a de ser habitante da água e da
terra, pois é isso que os antigos queriam dizer quando afirmaram que
este animal era anfíbio, como, aliás, Homero e Hesíodo já nos atestam.
Tu pensas que seria possível um sapo viver somente no deserto, tendo
ele necessidade de duas vidas por natureza,ó Górgias?

Górgias: Jamais ouvi qualquer notícia a respeito.

Sócrates: Pois isto se dá porque os sapos vivem nas lagoas, nos lagos
e nas poças, vistos que são animais, pertencem e uma categoria, e esta
categoria é dada segundo a característica dos sapos serem anfíbios.

Górgias: É verdade.

Sócrates: Precisando da lagoa, ó Górgias meu caro, tu achas que seria
o sapo insano o suficiente para não gostar de água?

Górgias: Não, não, não, mil vezes não, Ó Sócrates!

Sócrates: Então somos forçados a concluir que o sapo não lava o pé por
outro motivo, que não a repulsa à água

Górgias: De acordo Diógenes, o Cínico: Dane-se o sapo, eu só quero
tomar meu sol.


Aristóteles:

O [sapo] lava de acordo com sua natureza! Se imitasse, estaria fazendo
arte . Como [a arte] é digna somente do homem, é forçoso reconhecer
que o sapo lava segundo sua natureza de sapo, passando da potência ao
ato. O sapo que não lava o pé é o ser que não consegue realizar [essa]
transição da potência ao ato.

Epicuro:

O sapo deve alcançar o prazer, que é o Bem supremo, mas sem excessos.
Que lave ou não o pé, decida-se de acordo com a circunstância.

O vital é que mantenha a serenidade de espírito e fuja da dor.

Estóicos:

O sapo deve lavar seu pé de acordo com as estações do ano. No inverno,
mantenha-o sujo, que é de acordo com a natureza. No verão, lave-o
delicadamente à beira das fontes, mas sem exageros. E que pare de
comer tantas moscas, a comida só serve para o sustento do corpo.

Descartes:

Nada distingo na lavagem do pé senão figura, movimento e extensão. O
sapo é nada mais que um autômato, um mecanismo. Deve lavar seus pés
para promover a autoconservação, como um relógio precisa de corda.

Maquiavel:

A lavagem do pé deve ser exigida sem rigor excessivo, o que poderia
causar ódio ao Príncipe, mas com força tal que traga a este o respeito
e o temor dos súditos. Luís da França, ao imperar na Itália, atraído
pela ambição dos venezianos, mal agiu ao exigir que os sapos da
Lombardia tivessem os pés cortados e os lagos tomados caso não
aquiescessem à sua vontade. Como se vê, pagou integralmente o preço de
tal crueldade, pois os sapos esquecem mais facilmente um pai
assassinado que um pé cortado e uma lagoa confiscada.

Rousseau:

Os sapos nascem livres, mas em toda parte coaxam agrilhoados; são
presos, é certo, pela própria ganância dos seus semelhantes, que
impedem uns aos outros de lavarem os pés à beira da lagoa. Somente com
a alienação de cada qual de seu ramo ou touceira de capim, e mesmo de
sua própria pessoa, poder-se-á firmar um contrato justo, no qual a
liberdade do estado de natureza é substituída pela liberdade civil.

Locke:

Em primeiro lugar, faz-se mister refutar a tese de Filmer sobre a
lavagem bíblica dos pés. Se fosse assim, eu próprio seria obrigado a
lavar meus pés na lagoa, o que, sustento, não é o caso. Cada súdito
contrata com o Soberano para proteger sua propriedade, e entendo
contido nesse ideal o conceito de liberdade. Se o sapo não quer lavar
o pé, o Soberano não pode obrigá-lo, tampouco recriminá-lo pelo chulé.
E ainda afirmo: caso o Soberano queira, incorrendo em erro, obrigá-lo,
o sapo possuirá legítimo direito de resistência contra esta
reconhecida injustiça e opressão.

Filmer:

Podemos ver que, desde a época de Adão, os sapos têm lavado os pés.
Aliás, os seres, em geral, têm lavado os pés à beira da lagoa. Sendo o
sapo um descendente do sapo ancestral, é legítimo, obrigatório e
salutar que ele lave seus pés todos os dias à beira do lago ou lagoa.
Caso contrário, estará incorrendo duplamente em pecado e infração.

Kant:

O sapo age moralmente, pois, ao deixar de lavar seu pé, nada faz além
de agir segundo sua lei moral universal apriorística, que prescreve
atitudes consoantes com o que o sujeito cognoscente possa querer que
se torne uma ação universal.

Nota de Freud: Kant jamais lavou seus pés.

Hegel:

Podemos observar na lavagem do pé a manifestação da Dialética.
Observando a História, constatamos uma evolução gradativa da
ignorância absoluta do sapo – em relação à higiene – para uma
preocupação maior em relação a esta. Ao longo da evolução do Espírito
da História, vemos os sapos se aproximando cada vez mais das lagoas,
cada vez mais comprando esponjas e sabões. O que falta agora é, tão
somente, lavar o pé, coisa que, quando concluída, representará o fim
da História e o ápice do progresso.

Marx:

A lavagem do pé, enquanto atividade vital do anfíbio, encontra-se
profundamente alterada no panorama capitalista. O sapo, obviamente um
proletário, tendo que vender sua força de trabalho para um sistema de
produção baseado na detenção da propriedade privada pelas classes
dominantes, gasta em atividade produtiva alienada o tempo que deveria
ter para si próprio. Em conseqüência, a miséria domina os campos, e o
sapo não tem acesso à própria lagoa, que em tempos imemoriais fazia
parte do sistema comum de produção.

Engels: Isso mesmo.

Schopenhauer:

O sapo cujo pé vejo lavar é nada mais que uma representação, um
fenômeno, oriundo da ilusão fundamental que é o meu princípio de
razão, parte componente do principio individuationis, a que a
sabedoria vedanta chamou "véu de Maya". A Vontade, que o velho e
grande filósofo de Königsberg chamou de Coisa-em si, e que Platão
localizava no mundo das idéias, essa força cega que está por trás de
qualquer fenômeno, jamais poderá ser capturada por nós, seres
individuados, através do princípio da razão, conforme já demonstrado
por mim em uma série de trabalhos, entre os quais o que considero o
maior livro de filosofia já escrito no passado, no presente e no
futuro: "O mundo como vontade e representação".

Nietzsche:

Um espírito astucioso e camuflado, um gosto anfíbio pela dissimulação
- herança de povos mediterrâneos, certamente - uma incisividade de
espírito ainda não encontrada nas mais ermas redondezas de quaisquer
lagoas do mundo dito civilizado. Um animal que, livrando-se de
qualquer metafísica, e que, aprimorando seu instinto de realidade, com
a dolcezza audaciosa já perdida pelo europeu moderno, nega o ato
supremo, o ato cuja negação configura a mais nítida – e difícil –
fronteira entre o Sapo e aquele que está por vir, o Além- do-Sapo: a
lavagem do pé.

Foucault:

Em primeiro lugar, creio que deveríamos começar a análise do poder a
partir de suas extremidades menos visíveis, a partir dos discursos
médicos de saúde, por exemplo. Por que deveria o sapo lavar o pé? Se
analisarmos os hábitos higiênicos e sanitários da Europa no século
XII, veremos que os sapos possuíam uma menor preocupação em relação à
higiene do pé – bem como de outras áreas do corpo. Somente com a
preocupação burguesa em relação às disciplinas – domesticação do corpo
do indivíduo, sem a qual o sistema capitalista jamais seria possível –
é que surge a preocupação com a lavagem do pé. Portanto, temos o
discurso da lavagem do pé como sinal sintomático da sociedade
disciplinar.

Freud:

Um superego exacerbado pode ser a causa da falta de higiene do sapo.
Quando analisava o caso de Dora, há vinte anos, pude perceber alguns
dos traços deste problema. De fato, em meus numerosos estudos
posteriores, pude constatar que a aversão pela limpeza, do mesmo modo
que a obsessão por ela, podem constituir-se num desejo de autopunição.
A causa disso encontra-se, sem dúvida, na construção do superego a
partir das figuras perdidas dos pais, que antes representavam a fonte
de todo conteúdo moral do girino.

Jung:

O mito do sapo do deserto, presente no imaginário semita, vem a calhar
para a compreensão do fenômeno. O inconsciente coletivo do sapo, em
outras épocas desenvolvido, guardou em sua composição mais íntima a
idéia da seca, da privação, da necessidade. Por isso, mesmo quando
colocado frente a uma lagoa, em época de abundância, o sapo não lava o
pé.

Kierkegaard:

O sapo lavando o pé ou não, o que importa é a existência.

Comte:

O sapo deve lavar o pé, posto que a higiene é imprescindível. A
lavagem do pé deve ser submetida a procedimentos científicos universal
e atemporalmente válidos. Só assim poder-se-á obter um conhecimento
verdadeiro a respeito.

Weber:

A conduta do sapo só poderá ser compreendida em termos de ação social
racional orientada por valores. A crescente racionalização e o
desencantamento do mundo provocaram, no pensamento ocidental, uma
preocupação excessiva na orientação racional com relação a fins. Eis
que, portanto, parece absurdo à maior parte das pessoas o sapo não
lavar o pé. Entretanto, é fundamental que seja compreendido que, se o
sapo não lava o pé, é porque tal atitude encontra-se perfeitamente
coerente com seu sistema valorativo – a vida na lagoa.

Horkheimer e Adorno:

A cultura popular diferencia-se da cultura de massas, filha bastarda
da indústria cultural. Para a primeira, a lavagem do pé é algo ritual
e sazonal, inerente ao grupamento societário; para a segunda, a ação
impetuosa da razão instrumental, em sua irracionalidade galopante,
transforma em mercadoria e modismo a lavagem do pé, exterminando
antigas tradições e obrigando os sapos a um procedimento diário de
higienização.

Gramsci:

O sapo, e além dele, todos os sapos, só poderão lavar seus pés a
partir do momento em que, devido à ação dos intelectuais orgânicos,
uma consciência coletiva principiar a se desenvolver gradativamente na
classe batráquia. Consciência de sua importância e função social no
modo de produção da vida. Com a guerra de posições - representada pela
progressiva formação, através do aparato ideológico da sociedade
civil, de consensos favoráveis– serão criadas possibilidades para uma
nova hegemonia, dessa vez sob a direção das classes anteriormente
subordinadas.

Bobbio:

Existem três tipos de teoria sobre o sapo não lavar o pé. O primeiro
tipo aceita a não-lavagem do pé como natural, nada existindo a
reprovar nesse ato. O segundo tipo acredita que ela seja moral ou
axiologicamente errada. A terceira espécie limita-se a descrever o
fenômeno, procurando uma certa neutralidade.

Olavo de Carvalho:

O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer. Ele mora lá na lagoa,
não lava o pé porque não quer e ainda culpa o sistema, quando a culpa
é da PREGUIÇA. Este tipo de atitude é que infesta o Brasil e o Mundo,
um tipo de atitude oriundo de uma complexa conspiração moscovita
contra a livre-iniciativa e os valores humanos da educação e da
higiene!