quinta-feira, 18 de junho de 2009

A QUESTÃO DA LOCALIZAÇÃO DA ALMA HUMANA NO PENSAMENTO PRÉ-CRÍTICO DE KANT

O presente trabalho é fruto do projeto de pesquisa “Possibilidades e Limites da Psicologia Empírica no Pensamento de Kant”. Dentro dessa pesquisa, notamos o desenvolvimento da resposta que Kant dá ao problema do conhecimento da alma. Tais discussões pertenciam à chamada psicologia racional, que buscava conhecer os predicados da alma humana através da especulação pura, sem contaminá-la com aspectos empíricos. Kant, na Crítica da Razão Pura (1981), delimita o conhecimento da disciplina a aspectos puramente negativos: da alma nada se pode conhecer. Porém, notamos que essa dura crítica já estava sendo formulada em obras do período pré-crítico, especialmente em relação ao problema da localização da alma no cérebro. O objetivo do presente é analisar como essa questão é tratada no período pré-crítico de Kant. Para tanto, serão analisados os textos Sonhos de um visionário (1766) e Ensaio sobre as doenças mentais (1764), além da literatura secundária. Nos Sonhos de um visionário, Kant faz uma distinção entre o espírito e a alma, ambos de natureza imaterial, sendo esta última a parte do espírito que se liga ao corpo. A partir disso, ele coloca a questão: “onde é o lugar dessa alma no mundo corporal?”. Ironicamente ele menciona a opinião de alguns sábios que de pronto localizaram sua morada em um pequeno lugar no cérebro. Essa opinião, segundo Kant, parte do mesmo raciocínio que atribui ao coração o título de “órgão do amor”. Proposições desse tipo, diz ele, partem da falta de conhecimento aprofundado sobre a natureza do assunto. Visto ser contraditório questionar sobre a extensão de algo que é imaterial, é igualmente sem sentido confinar tal ser a um lugar específico do corpo. A reflexão de Kant vai ainda mais longe, ao mostrar as raízes da idéia de um eu imaterial que se diferencia do conceito de corpo, gerando juízos sobre a relação entre ambos. No entanto, tais juízos nada mais seriam que invenções, segundo Kant, e nem mesmo poderiam chegar a ser hipóteses, pois estas são formuladas a partir de observações de forças fundamentais, mas não de criações fantasiosas. Kant chega até mesmo a afirmar que, no futuro, talvez fosse possível ter opiniões de todo tipo a esse respeito, mas que nada se poderia saber sobre o mesmo. Conclui-se que, nas discussões presentes sobre o problema mente-cérebro, são apresentadas opiniões muito semelhantes àquelas cuja inviabilidade Kant já havia demonstrado, fato este que parece ter passado despercebido pelos sábios contemporâneos.

[P.S.: Resumo do trabalho que enviei para SBP]

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