quinta-feira, 9 de julho de 2009

CRÍTICA KANTIANA DA PSICOLOGIA RACIONAL: A IMPOSSIBILIDADE DE SE CONHECER A ALMA.

O objetivos do trabalho é compreender a crítica de Immanuel Kant (1724-1804) a psicologia racional e como ela se desenvolve até desembocar na Crítica da Razão Pura, culminando no veto a psicologia científica apresentado nos Primeiros Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza. Usamos como referência, bem como as obras citadas, os Sonhos de Um Visionário e a Dissertação de 1770, assim como a literatura secundária. A importância da crítica kantiana a psicologia racional para a psicologia moderna pode ser demarcada, a nosso ver, primeiro no que diz respeito a cientificidade da psicologia e segundo quanto ao objeto próprio da psicologia, uma vez que a psicologia racional trata justamente da alma, de sua essência, de sua relação com o corpo, etc. Esse conhecimento que se busca apreender da alma, ou seja, da simples consciência de um eu, enquanto sujeito pensante e objeto do sentido interno, portanto de uma autoconsciência que acompanha o sujeito por toda a vida dando-lhe unidade e personalidade, deve partir da especulação pura. Assim a psicologia racional vai buscar alcançar os predicados desse mesmo eu, que está presente em todo pensamento e acompanha toda experiência, da única forma em que ele pode ser alcançado: pelo próprio pensamento. De forma geral é esse o cerne da crítica de Kant: o eu, enquanto palco onde se dá todas as representação, só pode ser dado, necessariamente, como sujeito do pensamento e portanto só existe intelectualmente, a ele não podem ser dados predicados que só podem ser aplicados a coisas da experiência. Dessa forma o erro da psicologia racional é, através da análise do eu, formular proposições tais como: (1) a alma é substância, (2) é simples, (3) é idêntica, (4) está (ou não) em relação com objetos possíveis no espaço. Ora, tais proposições necessitam de provas dadas pela experiência e, relativo a alma, nada pode ser dado na experiência. Porque, apesar de parecer na consciência de nós próprios, numa intuição imediata, que possuímos uma substancialidade, esse conceito por nós formulado de nós mesmos permanece sem conteúdo. Ele, de fato, nada mais é que um sentimento de existência vazio e apenas representação em que se relaciona todo pensamento. Esse eu será sempre o sujeito que conhece e nunca poderá tornar-se objeto do conhecimento, só temos consciência dele porque dele carecemos imprescindivelmente para a possibilidade da experiência. Assim, a impossibilidade de se conhecer a alma acaba com todas as inspirações da psicologia racional. Não sendo possível uma psicologia racional, a psicologia, enquanto projeto científico, se vê em sérios embaraços: só lhe resta a psicologia empírica, e esta, sem uma base a priori (que seria dada pela psicologia racional), estará limitada a uma simples disciplina histórica, de descrição de estados internos, não pertencendo, para Kant, ao ramo das Ciências Genuínas.

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